OPINIÃO
*Dr.ª Margarida Rebolo
A integração de todos os
elementos da família com demência na preparação da quadra natalícia pode
traduzir-se numa experiência preciosa e muito gratificante para todos, ao invés
de um momento de agitação e gerador de stress.
Aqui ficam algumas dicas para que possa tirar o maior partido desta quadra.
Mantenha as
tradições familiares
Muitas famílias têm pelo menos
uma tradição relacionada com o Natal. Poderá ser cozinhar os doces de natal em
conjunto, ter lugares marcados à mesa ou abrir as prendas após a meia-noite de
dia 24 de dezembro. Estas tradições tornaram-se verdadeiros hábitos ou rituais
familiares ao serem vividas e repetidas ao longo de vários anos. As pessoas com
demência beneficiam de um ambiente estável e previsível que privilegie
comportamentos automáticos e memórias repetidamente ensaiadas.
Seja
flexível
É muito importante estabelecer
expectativas realistas em relação ao Natal. Se a família sempre foi habituada a
fazer uma festa muito elaborada do ponto de vista logístico, talvez poderá ser
útil simplificar as celebrações para bem de todos. Por um lado, tente manter
algumas tradições. Por outro, não tenha medo de fazer alterações ao plano
habitual se isso ajudar a aliviar a pressão. Poderá elaborar menos refeições ou
distribuir essa tarefa por outros membros da família. Poderá também comprar
comida já feita, desde que consiga garantir a sua qualidade. Se a presença de
muitas pessoas for uma fonte de agitação para a pessoa com demência, poderá ser
necessário fazer uma celebração mais intimista.
Prepare-se
É fundamental que todos estejam
preparados para as exigências destes dias que se avizinham. O Natal pode ser
uma oportunidade para a pessoa com demência estar com familiares que já não vê
há algum tempo, o que, por um lado é positivo mas, por outro, pode ser
desestabilizador. Prepare os familiares mais distantes para aquilo que poderão
vir a observar (alterações comportamentais ou cognitivas que surgiram/pioraram
desde a última vez que estiveram juntos), para que a sua reação não seja tão
inesperada nem negativa.
É possível que a pessoa com
demência não se lembre dos nomes ou não reconheça todos os membros familiares.
No caso de isso acontecer, não confronte a pessoa – evite perguntar “Então não
sabe quem é esta pessoa?”. O que para nós pode parecer uma recordação simples
pode ser extremamente difícil e frustrante para uma pessoa com demência. Diga,
por exemplo, “Esta menina bonita é a Joana, a sua neta, e já estava com
saudades suas.”
Evite o
ruído
Algumas pessoas com demência
reagem mal à confusão e ao excesso de estimulação. É fundamental promover uma
comunicação adequada entre a pessoa com demência e os restantes familiares, de
modo a evitar manifestações comportamentais como a irritabilidade e a agitação.
Fale devagar, construa frases simples e não muito compridas. Dê tempo à pessoa
para responder (não tenha medo do silêncio!). Evite ter mais do que uma pessoa
a falar ao mesmo tempo.
Se a pessoa com demência tem
alterações visuo-percetivas, por exemplo, se tem tendência para olhar para um
objeto e vê-lo distorcido, evite ter muitas decorações de natal espalhadas pela
casa pois estas podem causar confusão.
Promova a
segurança
Assegure-se de que os elementos
decorativos não representam um perigo para a pessoa com demência e os restantes
membros da família. Objetos inflamáveis exigem uma monitorização constante; as
facas de cozinha devem ser mantidas fora do alcance da pessoa com demência; a
árvore de natal e os objetos de parede devem estar bem fixos para que não haja
risco de caírem em cima da pessoa. Esteja atento a estes aspetos.
Finalmente, lembre-se que errar é
humano e que nem sempre as coisas correm na perfeição. A tolerância e a
compaixão são ingredientes essenciais para que os obstáculos que surgem nestes
momentos festivos possam ser ultrapassados e para que as festividades sejam
harmoniosas.
*Neuropsicóloga no NeuroSer,
centro de diagnóstico e terapias para Alzheimer e outras demências.
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